Em uma das cidades mais antigas do Brasil, com 489 anos, estudantes da rede municipal de ensino estão vivenciando uma nova forma de aprender a história local, com o projeto Circuito Decolonial, da secretaria da Educação, valorizando as contribuições das culturas africanas e indígenas na construção de Igarassu.
O circuito, idealizado por Juliana Bandeira, por meio do Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais, está rompendo com a narrativa colonial tradicional por meio de visitas mediadas a museus, igrejas, casas históricas e à Biblioteca Pública, oferecendo uma experiência imersiva, crítica e sensível.
Assim, as crianças aprendem que a história de Igarassu não começa em 1535 com a colonização portuguesa, mas nas raízes dos povos originários e, posteriormente, na contribuição dos africanos.
“Quando crianças negras entendem que descendem de construtores, matemáticos, agricultores, arquitetos, filósofos, reis, rainhas, guerreiras… e não apenas de pessoas escravizadas, isso transforma sua autoimagem e seu lugar no mundo”, explica Juliana Bandeira, coordenadora do Circuito Decolonial.
A iniciativa está fundamentada na Lei Federal nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas, e na Lei Municipal nº 3.643/2024, que institui a Política Pública de Educação Antirracista em Igarassu.
O projeto surgiu a partir das reflexões do Clube de Leitura Afroletrando, sediado na Afroteca Municipal. Uma das principais inspirações foi o livro O Perigo de uma História Única, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, cuja obra denuncia os riscos de se contar apenas uma versão da realidade e defende a importância de múltiplas narrativas para a construção da identidade e da memória coletiva. O pensamento de Adichie orienta teoricamente as ações do Circuito, que busca desconstruir o apagamento histórico das populações negras e indígenas.
Com parcerias da Afroteca Municipal, do Museu Histórico de Igarassu e da Pinacoteca, o Circuito se consolida como uma prática de educação decolonial, que enxerga a história como um campo vivo e dinâmico.
Em sua primeira semana, o circuito já envolveu 130 alunos. A expectativa é ampliar as atividades para incluir também as turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), ampliando o alcance e impacto dessa importante ação educacional, cultural e política.
Foto: Ivonildo Pedro
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