28 de fevereiro de 2013

O fator Fernando Bezerra


Por Terezinha Nunes 


No período feudal surgiu no Japão um personagem especial. Batizado de “ninja”, era conhecido como um articulador político especial que usava métodos secretos e a espionagem para ganhar uma guerra, chegando a fazer o contraponto aos samurais, que praticavam a luta aberta. 

No imaginário popular, o “ninja” acabou sendo tido como um ser invisível, que, acreditava-se, conseguia até mesmo andar sobre as águas, sem ser percebido. Hoje os ninjas dos jogos eletrônicos infantis são personagens capazes de grandes e repentinas transformações, que praticam acrobacias e que, se existissem no interior nordestino, certamente seriam apelidados como “o cão chupando manga”, tal a capacidade de enfrentar qualquer cenário adverso. 

Em Pernambuco, estado acostumado a fazer uma política radicalizada, onde, como dizia o deputado federal José Mendonça, “cada um deve ter seu lado”, o ministro Fernando Bezerra Coelho ganhou esta semana o apelido de “ninja” nos corredores da Assembleia Legislativa. 

Na verdade, contrariando por completo a radicalização pernambucana, Fernando já passou por seis partidos políticos. Começou pela direita na Arena/ PDS/ PFL, depois filiou-se ao PMDB, PPS e PSB e agora, sendo verdadeiras as especulações políticas recentes, estaria para ingressar na esquerda, representada pelo PT, e ser candidato majoritário em 2014 – possivelmente a governador. 

Com tal currículo a exibir e uma extrema capacidade de transformação, ninguém tem dúvida sobre a possibilidade do ministro, que foi colocado no Governo Federal por recomendação do governador Eduardo Campos, vir a romper com seu padrinho e apoiar a candidatura da presidente Dilma à reeleição, antes mesmo que Eduardo decida enfrentar ou não uma carreira solo. 

Bezerra teria dado sinais disso na própria reunião que o governador realizou em Gravatá para anunciar um pacote de apoio aos prefeitos. Enquanto Eduardo e o secretário Tadeu Alencar fizeram discursos mostrando as realizações do Governo Estadual, Bezerra Coelho cerrou fileira ao lado do senador Humberto Costa e só falou no que Dilma estava fazendo por Pernambuco. Ainda por cima, chegou atrasado ao encontro e disse ao governador, ao microfone, que estava chegando naquele horário porque teria tido um encontro com a presidente que mandara um abraço para ele, Eduardo. 

O “abraço” de Dilma, visto em outros tempos como uma deferência, foi interpretado pelos socialistas como uma ironia do ministro. 

Apesar de majoritária não é unânime a opinião dos governistas sobre a possibilidade de Fernando se filiar ao PT. Alguns deputados imaginam que ele estaria, o que é considerado natural na política, se cacifando para entrar no rol dos majoritários não do PT, mas do PSB. Para isso, deixara vazar a versão de que poderia vir a ser um petista à espera de que o governador, para não perdê-lo, resolvesse incluí-lo nos planos de 2014 como candidato a governador ou a senador. 

Só o tempo dirá quem tem razão. O certo, porém, é que Fernando, certamente, a julgar por sua trajetória, se dará bem em qualquer partido em que venha a ingressar. 

Não é à-toa que foi chefe da casa civil do governador Roberto Magalhães que abandonou em seguida e se aliou ao então adversário, o governador Miguel Arraes. Em 1990, já no PMDB, Fernando articulou a aliança com o atual senador Jarbas Vasconcelos indicando seu pai, Paulo Coelho, para vice de Jarbas na campanha que acabou derrotada para o governo. 

Em 1992, ainda no PMDB, ele foi eleito prefeito de Petrolina, partido que abandonoupara se filiar ao PPS e assumir o lugar de candidato a vice-governador de Arraes em 1998. Ainda no PPSelegeu-se novamente prefeito de Petrolina em 2000. Reeleito em 2004 saiu da Prefeitura dois anos depois para coordenar a campanha de Eduardo a governador e se filiar ao PSB. 

Em Petrolina acredita-se que o sonho de Fernando é repetir a trajetória de Nilo Coelho e ser governador e senador. Para isso estaria disposto a migrar para o grupo que lhe garantisse a viabilização deste projeto. O PT pode ser a bola da vez. 

CURTAS 

Nova Chapa – O ministro Fernando Bezerra não está cotado apenas para o governo em 2014. Filiando-se ao PT poderia, segundo revelam alguns petistas, ser candidato não só a governador como a senador. Neste caso o PT apoiaria o senador Armando Monteiro para o governo e colocaria o deputado federal João Paulo, na vice. Tudo para dar um palanque forte a Dilma. 

Candidato – Na Assembleia já se trabalha com a possibilidade de o PT vir a se desgarrar da base governista. Ninguém, porém, se arrisca a dizer quando. O certo é que a bancada petista já não vai mais à tribuna defender o governador dos ataques da oposição como acontecia no primeiro mandato. 

Oposição – Apesar de minúscula – tem apenas nove dos 49 deputados – a oposição está incomodando a bancada governista na Assembleia. Um simples pronunciamento mostrando falhas do governo é tido como o fim do mundo e desperta amuos e reclamações como se fosse feio cobrar até mesmo celeridade nas obras públicas.

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